A DISCIPLINA E A COMPLEMENTARIEDADE DAS IDÉIAS DE FOUCAULT E BOURDIEU.
Michel Foucault, em sua obra Vigiar e punir, no capítulo ‘Os corpos dóceis’, alude à questão da disciplina que o corpo pode se submeter. Logo no início do texto o autor, sob um panorama histórico, transcreve as descrições da figura ideal do soldado nos séculos XVII e XVIII. Em ambos os períodos o comportamento do soldado se assemelha muito ao de um robô, completamente disciplinado para fazer aquilo que lhe fosse ordenado. Isso ocorreu pelo fato de que, durante a época clássica, teve-se descoberta a arte de o corpo, assim como um objeto, ser disciplinado, manipulado, modelado. Dessa forma, obedecendo, docilmente, às ordens que lhe fossem impostas. Foucault, ao longo da obra, elenca alguns elementos para se alcançar a disciplina: o controle; a hierarquia absoluta; castigos e punições e vigilâncias, sempre com o fim de conquistar a obediência.
Foucault mostra que já existiam diversos processos disciplinares, há tempos, quais sejam aqueles constantes em conventos, exércitos e oficinas; mas ressalta que foi no decorrer dos séculos acima mencionados que estes passaram a ser fórmulas de dominação, diferentes da escravidão, que se apropria do corpo do homem; e diferente da domesticidade; ou da vassalidade; do ascetismo e das disciplinas do tipo monástico. Em verdade, para Foucault, a disciplina é uma espécie de fábrica de corpos submissos e exercitados: corpos dóceis. Essa disciplina podia, e ainda pode ser localizada em funcionamento em várias instituições: colégios, escolas primárias, hospitais, quartéis etc. O ponto que justifica a complementariedade das idéias de Foucault e Bordieu é justamente a disciplina como meio de dominação. Este último, tema de grande estudo por Pierre Bourdieu, tem forte relação com a disciplina de Michel Foucault.
Destarte, mais à frente, Foucault, explica a disciplina nos quartéis e colégios. Melhor nos atermos à disciplina nos colégios, para uma melhor compreensão da relação entre os autores:
“O modelo do convento se impõe pouco a pouco: o internato aparece como regime de educação senão o mais freqüente, pelo menos o mais perfeito; torna-se obrigatório em Louis-le-Grand quando, depois da partida dos jesuítas, fez-se um colégio modelo.”
Quando menciona o princípio da clausura, ou do encarceramento, o autor refere à questão do quadriculamento, ou seja, que cada indivíduo deve estar, e saber que está posicionado no seu lugar – aí se reflete a idéia de dominação. Fica evidente que o espaço disciplinar tem de se dividir o quanto for necessário, a fim de impedir o desaparecimento de indivíduos, a circulação difusa destes, evitando, dessa forma, a deserção, a vadiagem, ou a aglomeração e, dessa maneira, facilitando o modo de encontrar os indivíduos e poder vigiá-los a cada instante, sancioná-los e medi-los as qualidades ou os méritos. Aqui se pode começar a relacionar os pensamentos dos autores que já fizemos alusão. Foucault, tendo mencionado esse ato de medir as qualidades dos indivíduos, dá margem para lembrarmos a crítica que Bourdieu estabeleceu, durante toda a sua trajetória, acerca do assunto, que ele chama de poder de nomeação: ele se pergunta de onde é que vem essa capacidade e legitimidade de os professores separarem os alunos em brilhantes e ignorantes; capazes e incapazes; aptos ou inaptos; criticando que a mesma sociedade que inclui uns, exclui outros. Mister é deixar claro que o que une Bourdieu e Foucault é o pensamento comum que eles tinham acerca da necessidade de se analisar, historicamente, as práticas sociais. Ambos relacionavam esse poder disciplinar de dominação como um veículo de violência. Para Foucault, a violência se encontra exatamente nas estratégias da obtenção do poder disciplinar: o controle, a vigilância, os castigos e punições etc. No caso do poder de nomeação, estudado por Bourdieu, a violência está justamente na estrutura hierárquica que este guarda em sua essência, nomeando alguns sujeitos como melhores que outros, levando à exclusão, que nada mais é do que uma forma de violência, de negação do outro. Bourdieu também mostrou que todas as sociedades se fundam em uma violência de natureza simbólica.
Pode-se, realizando leitura integral da obra Vigiar e Punir de Michel Foucault e de O Poder Simbólico, de Pierre Bourdieu, ter uma melhor concepção acerca desses assuntos que, embora diversos, são altamente complementares, conforme aqui se tentou, modestamente, expor.
Ellennnnnnnnnnnn! Você tá lendo Focault?
ResponderExcluirQue fodastico!! Amo Focault!! Eu estudo análise do discurso baseado em Focault e em Bakhitin!
Se que escreveu o texto ai em cima?
Que orgulho! Bjo!
Mais um aporte, Amo Bourdieu, sempre, sempre..!
ResponderExcluirfaltou tudo um u ali no Foucault, força do hábito de escrever errado, desconsidere...
ResponderExcluirEsse é o último, I promise: Se foi você quem escreveu também te dou os parabéns pela coesão e coerência do texto, está muito bem escrito. Adorei o uso de várias palavrinhas mágicas como Destarte(adoro essa)Mister, (é ótima!), qualificam bastante o escritor e o tipo de leitor...quero mais!
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